“...na verdade ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra” José Saramago
E lá vamos nós ... eu e meus pensamentos que rodam como peru em volta do mesmo assunto, o assunto que me aflige me transtorna e me derruba.
O egoísmo que tantos negam, na verdade, é parte importante de cada um de nós. Mas por que? Porque nos tornamos esse ser tão egoísta?
Tenho feito muitas vezes referência a “banalidade do mal” porque não apenas em situação de guerra agimos dessa forma, agora, toda hora é hora.
Não é por mal, a pessoa se desculpa, mas na próxima oportunidade não deixará de demonstrar toda a sua capacidade de não conseguir enxergar o outro como um ser feito da mesma matéria, sentimentos, questionamentos, amor e egoísmos.
Poxa, mas se a sociedade está cada vez mais doente por causa disso porque não mudamos? (Eu tenho uma resposta, mas não sei se estou certa.)
Porque é mais fácil não pensar, os governos estão apoiando esse comportamento de não pensamento, de repetição. As pessoas não criam absolutamente nada, não tem mais opiniões sobre absolutamente nada. O discurso acaba no momento que a lembrança falha sobre o que o outro falou.
E se o outro faz porque eu não posso fazer?
Pensar demanda, mas não gasta.
Pensar no outro então, demanda muito mais, mas muuuuito mais.
É como o destro escrever com a mão esquerda. Dá trabalho desconstruir, e se eu trabalho das 9hrs as 18hrs não.. não quero mais trabalho.
As pessoas não fazem pensando em prejudicar o outro, prejudicam “sem querer” porque pensar dá trabalho.
Andam na calçada em grupos sem deixar ninguém passar porque estão se divertindo, e isso não faz mal a ninguém e se faz é recalque, inveja.
Não pensa que a próxima pode ser ela a querer chegar sem esperar a manada andar.
Uma vez perguntei para uma amiga porque ela ficava na porta do transporte público se ela não desceria no próximo e nem no outro e assim por diante e ela me respondeu:
Porque eu gosto, porque fico mais perto na hora de sair.
Eu: Ok, mas e os outros?
Ela: Eles desviam, os outros já não são problema meu
Estamos cada vez mais solitários em nossa existência, por pura escolha, porque o que pensa no outro é esquisito e quem quer ter um amigo, filho, parente esquisito?
Nós queremos a normalidade da felicidade incessante, da cara jovial na rede social, porque mais vale mostrar que é do que ser alguém genuinamente.
Errar não é mais permitido, pedir desculpas virou sinônimo de fraqueza, e no mundo dos egos isso é inadmissível.
A vida não pode mais ser algo duro de viver, nós escutamos e vemos isso o tempo todo.
Eu estou o tempo todo feliz!!! (Diz a atleta em rede nacional)
Quer algo mais mentiroso do que isso?
Pois é, mas mesmo adoecendo as pessoas, essa frase continua ecoando e ecoando.
O tal do ego, no mundo em que os meus interesses existem os nossos não coexistem.